Maria
Valdicélia Cavalcante Lopes
Segundo Comitê Interministerial
de Inclusão Social dos Catadores de Materiais Recicláveis – CIISC, Movimento
Nacional dos Catadores de Materiais Recicláveis – MNCR, Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística – IBGE, Organização Social Civil Pública PANGEA,
empresa Tetra Pak, Compromisso Empresarial para a Reciclagem – CEMPRE e
Instituto Nenuca de Desenvolvimento Sustentável, existem atualmente atividades
entre 400 e 600 mil trabalhadores que recolhem materiais recicláveis no Brasil.
São aproximadamente 1.100 organizações coletivas como cooperativas e
associações com 40 a 60 mil participantes organizados, onde 60% destas
organizações possuem baixa eficiência e a renda média dos associados não atinge
um salário mínimo, ficando entre R$ 420,00 e R$ 520,00. A escolaridade dos
catadores (as) na faixa de instrução mais observada é de 5ª a 8ª séries do Ensino
Fundamental. Quanto aos municípios 27% declaram conhecer a atuação dos
catadores em unidades de destinação final de resíduos (lixões e aterros
sanitários) e 50% dos municípios têm as atividades destes trabalhadores em
áreas urbanas.
O processo de organização dos
catadores ocorre mediante a necessidade de garantirem o material reciclável
como produto para o sustento em 1999 aconteceu o 1º Encontro Nacional de
catadores de Papel e em 2001 realizou-se o 1º. Congresso Nacional dos Catadores
e catadoras fundando o Movimento Nacional de Catadores e Catadoras com 1.700
participantes, onde lançam a “Carta de Brasília” documento que expressa
necessidades do povo que sobrevive da coleta de materiais recicláveis.
O Decreto 5.940 de 26 de outubro
de 2006 instituiu a separação dos resíduos recicláveis descartados pelos órgãos
e entidades da Administração Pública Federal direta e indireta e sua destinação
para cooperativas e associações de catadores. Em janeiro de 2007 pela Lei
11.445 de 05 de janeiro, é dispensada a licitação na contratação de coleta,
processamento e comercialização de resíduos sólidos urbanos recicláveis ou
reutilizáveis, em áreas com sistemas de coleta seletiva de lixo, efetuada por
cooperativas ou associações formadas por pessoas físicas de baixa renda, com o
uso de equipamentos compatíveis com as normas técnicas, ambientais e da saúde pública.
A partir dos pressupostos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, é que a gestão ambiental no Brasil ganha
uma visão moderna na luta contra um dos maiores problemas do planeta: o lixo
urbano. Tendo como princípio a responsabilidade compartilhada entre governo,
empresas e população, onde a nova legislação impulsiona o retorno dos produtos
às indústrias após o consumo, e obriga o poder público a realizar planos para o
gerenciamento do lixo. Entre as novidades, a lei consagra o viés social da
reciclagem, com participação formal dos catadores organizados em cooperativas.
A lei foi promulgada no dia 2 de agosto de 2010, após debates com governo,
universidades, setor produtivo e entidades civis, a Política Nacional promoverá
mudanças no cenário dos resíduos.
A reciclagem com inclusão social
deverá atingir aproximadamente um milhão de pessoas no Brasil, contando com a
força do trabalho dos que fazem a separação dos materiais recicláveis incluindo
aqueles que percorrem atualmente as ruas das cidades para a coleta com suas
carrocinhas. Estão divididos em diferentes categorias, conforme o grau de
organização desde pequenos núcleos, que operam sem condições de segurança ou
higiene, até grandes cooperativas com gestão de negócios, maquinário, veículos
e controle da produção. Na base da pirâmide, situam-se os catadores autônomos e
informais, sujeitos à exploração por atravessadores que revendem os materiais
recicláveis para sucateiros de maior porte ou para a indústria. No final dessa
cadeia, o preço pode ser quatro vezes superior ao inicialmente pago aos
carroceiros. Apenas 10% dos catadores estão organizados, sem a dependência dos
intermediários. São aqueles que trabalham em galpões de reciclagem, mais
equipados e com melhor infra-estrutura, principalmente, sob a forma de
cooperativas e associações. Nesses locais, unem forças para melhorar a
qualidade, aumentar a quantidade e agregar valores aos materiais separados do
lixo. Dessa maneira, conseguem preços mais atraentes no mercado e renda mais
elevada, com ganhos sociais.
A Pastoral do Povo da Rua tem
como missão ”Ser presença constante e solidária junto
aos moradores de rua e catadores (as), reconhecendo nestes os sinais de Deus, desenvolvendo
ações que transformem suas situações de exclusão em projetos de vida” com o objetivo de estimular a construção de políticas pública que garantam os
direitos para uma vivência plena de cidadania.
A
proposta de Parceria Público-Privada (PPP) para os Sistemas de Coleta,
Tratamento e Destinação Final dos Resíduos Sólidos que tem preocupado o
Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis -MNCR pois ao invés de
controlar a destinação dos resíduos sólidos para o beneficiamento e
fortalecimento das cooperativas de catadores(as), aprofunda a privatização dos
serviços e aponta para a extinção de service público de limpeza, levando a um
grande risco, ao focar a coleta seletiva num Plano Piloto, pois aponta para
uma destinação que é a incineração.
Apreender essa realidade torna-se
necessário para uma reflexão sobre a prática desenvolvida, podendo fornecer
subsídios para se construir estratégias para que os catadores e catadoras de
materiais recicláveis e sociedade ampliem e dialoguem os saberes, superem
obstáculos para promoverem mudanças fundamentais de consciência para melhorar
as condições de vida no planeta, social e ambiental. A Pastoral é parceira da
Rede de Catadores do Ceará, juntamente com o Fórum Lixo e Cidadania.
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